quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Questões de Filosofia Política (UERJ) - Seminário de Ontologia IV (UFRJ)

DISCIPLINA:  Seminário de Ontologia IV

PROFESSOR: Ulysses Pinheiro

HORÁRIO: quartas-feiras, das 16:00h às 19:00h

OBJETIVO: Explorar as características de uma literatura feita por autores que não apenas apoiaram ou fizeram parte de regimes tirânicos, opressivos e/ou fascistas, mas que incorporaram o pensamento totalitário em suas próprias obras, com o objetivo de entender como (e se) isso afeta o próprio conceito de literatura, tal como ele é concebido pela modernidade.

PROGRAMA: Em Aula, o texto publicado de sua lição inaugural no Collège de France, Roland Barthes afirma que “A língua, como performance de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente fascista”. Mas é possível, acrescenta ele, entender a língua fora do poder [hors-pouvoir], “no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, [que] eu denomino, de minha parte: literatura”. Essa duplicidade expressa bem uma certa ideia de literatura, tal como a concebemos contemporaneamente, que não é restrita a Barthes: forjada no século XIX, e tendo nascido ao mesmo tempo que aquilo que se entende algumas vezes como sendo uma de suas fases, a saber, a passagem do romantismo para o modernismo, essa confluência entre literatura e liberdade a representa frequentemente como o lugar do contradiscurso, realizando, na sua forma expressiva, a transgressão das formações opressoras vigentes. Ou seja, o ato de criação seria necessariamente, em si mesmo, subversivo e anticonservador. O curso pretende entender o que parece ser uma exceção a essa ideia de literatura: os textos escritos por autores comprometidos com regimes tirânicos, opressivos e/ou fascistas. Nesse caso, que está longe de ser raro ao longo dos últimos duzentos anos, seria preciso admitir que aquilo mesmo que contraria o ato de criação é sua condição de possibilidade. Os principais objetos de análise serão as obras de dois autores latino-americanos, Jorge Luis Borges e Nelson Rodrigues. O exame de suas obras acrescentará, à questão das relações entre literatura e tirania, peculiaridades coloniais manifestadas em seu apoio às ditaduras militares da Argentina e do Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura; fascismo; contradiscurso; liberdade; criação.

AVALIAÇÃO: Um trabalho no final do curso.


- texto para a aula de 17 de setembro:






- textos de apoio:


- textos literários:

Ficções, de Jorge Luis Borges.

Álbum de família, de Nelson Rodrigues.


- textos lidos:

Introduction ("Les modernes en liberté") e Partie I, Chap. 1 ("Contre-révolution") de Les antimodernes, de Antoine Compagnon. Paris: Éditions Gallimard, 2005.

- Introductión ("Los modernos en liberdad") y Parte I, Cap. 1 ("Contrarrevolutión") de Los antimodernos, de Antoine Compagnon. Barcelona: Acantilado, 2007.

 

            BIBLIOGRAFIA PRIMÁRIA: 

BARTHES, Roland. Leçon (1978). In: Roland Barthes. Œuvre complètes. Vol. V – Livres, textes, entretiens (1977-1980). Paris: Éditions du Seuil, 2002, p. 427-446.

______. Aula. São Paulo : Cultrix, 2017.

BLANCHOT, Maurice. L'Espace littéraire. Paris: Éditions Gallimard, 1955.

______. Chroniques politiques des années trente, 1931-1940. Édition préfacée, établie et annotée par David Uhrig. Paris: Éditions Gallimard, 2017.

BORGES, Jorge Luis. El Aleph. Buenos Aires: Emecé Editores, 1962.

______. Ficciones. Buenos Aires: Emecé Editores, 2009.

DERRIDA, Jacques e ATTRIDGE, Derek. Acts of Literature. London/New York: Routledge, 1992.

______. Essa estranha instituição chamada literatura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

FOUCAULT, Michel. “Littérature et langage”. In: La grande étrangère. À propos de littérature. Paris: Édition de l’École des hautes études en sciences sociales, 2013.

______. “Literatura e linguagem”. In: A grande estrangeira. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

RODRIGUES, Nelson. O reacionário. Memórias e confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

______. O beijo no asfalto. Toda nudez será castigada. In: Teatro completo de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

 

BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA:

ARMILLAS-TISEYRA, Magalí. The Dictator Novel: Writers and Politics in the Global South. Northwestern University Press, 2019.

BATAILLE, Georges. La littérature et le mal. In : Georges Bataille. Œuvres complètes, IX. Paris: Gallimard, 1955.

CRISPOLTI, Enrico. “La política cultural del fascismo, le avanguardie e il problema del futurismo”, in Felice, Renzo de (org.), Futurismo, Cultura e Política. Torino, Fondazione Giovanni Agnelli.

GREEN, Mary Jean. “Toward an Analysis of Fascist Fiction: The Contemptuous Narrator in the Works of Brasillach, Céline and Drieu la Rochelle”. In: Studies in 20th Century Literature. Vol. 10: Iss. 1, Article 7, 1985. https://doi.org/10.4148/2334-4415.1175

LOUIS, Annick. “Dictatorship and Writing (1976–1983)”. In: Jorge Luis Borges in Context. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.

MACHADO, Carolina Bezerra. “Cenas de um anticomunista: as representações das esquerdas brasileiras em Nelson Rodrigues (1967-1974)”. In: Escritas, Vol. 6 n. 1 (2014) ISSN 2238-7188, p. 44-65.

MORRISON, Paul. The Poetics of Fascism. New York; Oxford: Oxford University Press, 1996.

NOGHREHCHI, Hessam. “Le fascisme de la langue”. Littérature, n° 186, Juin 2017, p. 34-43.

 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

História da Filosofia Moderna VI - FCF336

 

Nome da disciplina: História da Filosofia Moderna VI

Código da disciplina: FCF336

Dia e Hora: quintas-feiras, das 13:40h às 17:00h

Professxr: Ulysses Pinheiro

e-mail: filosofiaifcs@gmail.com

Programa:  O curso fará uma introdução ao pensamento de F.W.J. Schelling (1775-1854), um dos principais nomes da filosofia alemã do século XIX. Ao longo desse século, o mundo mecanicista do então nascente capitalismo industrial foi invadido por espíritos de outro mundo, os quais se comunicavam com este mundo visível por meio de mesas girantes, textos psicografados, possessões, mesmerismo, fluídos ectoplasmáticos, médiuns. Stefan Andriopoulos, em seu livro Aparições espectrais, relaciona, em torno de uma vinculação comum, o espiritismo, o idealismo alemão e o surgimento de tecnologias de comunicação à distância, como o rádio e a televisão; é nesse contexto que, por volta de 1810, Schelling escreve Clara, cujo tema é a ligação da natureza com o “mundo dos espíritos” [Geisterwelt]. Para além de uma história das ideias, no entanto, este curso pretende explorar a dimensão metafísica da espectrologia oitocentista, através do estudo das Preleções privadas de Stuttgart, de Schelling (proferidas nesse mesmo ano de 1810), nas quais sua teoria sobre a vida após a morte encontra-se fundada em uma metafísica da identidade entre finito e infinito, real e ideal, interior e exterior. Veremos como essa metafísica é tributária de teses de uma certa tradição mística e esotérica, na qual se destaca a obra de Emanuel Swedenborg.

Avaliação: uma prova no meio do semestre e um trabalho final.

Bibliografia:

ANDRIOPOULOS, Stefan. Aparições espectrais. O idealismo alemão, o romance gótico e a mídia óptica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

SCHELLING, F. W. J. Stuttgarter Privatvorlesungen [1810]. Friedrich Wilhelm Joseph Schelling Historisch-kritische Ausgabe. Reihe II: Nachlass, Band 8. Stuttgart: Frommann-Holzboog Verlag, 2017.

 ______. Preleções privadas de Stuttgart. Tradução, introdução e notas de Luiz Fellipe Garcia. São Paulo: Editora Clandestina, 2020.

 ______. Clara. Ueber den Zusammenhang der Natur mit der Geisterwelt. Ein Gespräch. Fragment. (Aus dem handschriftlichen Nachlaß) [circa 1810]. SW Abt. I/9, S. 1-110.

 ______. Clara. Acerca da conexão da natureza com o mundo dos espíritos. Um diálogo. Tradução de Muriel Maia Flickinger. Edipucrs, 2016.

 SWEDENBORG, Emanuel. Arcana Celestia e Apocalipsis Revelata. Tradução de John L. O. Rodriguez. São Paulo: Hedra, 2008.


- aula do dia 18 de setembro:

Preleções privadas de StuttgartTradução, introdução e notas de Luiz Fellipe Garcia.

- textos de apoio:

- "Sobre a incompreensibilidade", de Friedrich Schlegel.

- textos lidos:

"A lanterna mágica da filosofia: espectros de Kant", de Stefan Andriopoulos. In: Aparições espectrais. O idealismo alemão, o romance gótico e a mídia óptica.