PROFESSOR: Ulysses Pinheiro
HORÁRIO: quartas-feiras,
das 16:00h às 19:00h
LOCAL: IFCS - Largo de São Francisco de Paula, 1 - sala 307-A (subir escada ao lado do banheiro feminino do terceiro andar)
Exame do conceito de valor de uso na crítica anticapitalista de O anti-Édipo: entre Marx, Bataille, Klossowski, Agamben.
PROGRAMA:
Uma
das principais tarefas de uma teoria crítica do capitalismo é formular um
conceito de valor que a torne capaz de chegar a um ponto de vista externo
às categorias da economia política burguesa. O objetivo deste curso é examinar
uma dessas teorias, a saber, a que foi elaborada por Gilles Deleuze e Félix
Guattari em O anti-Édipo (1972). Trata-se de determinar o significado
que os conceitos de “uso” e de “valor de uso” adquirem ao longo do livro,
concentrando-nos especialmente em seu capítulo 4 (“Introdução à
esquizo-análise”). É nesse capítulo que se expõe, senão um programa, ao menos
as diretrizes gerais ou as tarefas preliminares de uma práxis revolucionária.
Encontramos aí, portanto, as bases para a formulação de um pensamento utópico,
ligado à destruição do capitalismo.
A
famosa frase retirada de Frederic Jameson, “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que
o fim do capitalismo”, será contraposta a algumas formulações que se dedicaram
a articular uma tal imaginação, algumas das quais prepararam a versão
encontrada em O anti-Édipo, enquanto outras foram por ela influenciadas.
Começaremos essa série com a leitura da Crítica ao programa de Gotha, de
Karl Marx, um dos únicos lugares de sua obra em que ele tratou de detalhar como
seria o funcionamento de uma sociedade comunista. Em seguida, examinaremos a
dimensão utópica – e contra-utópica – do pensamento de Pierre Klossowski, em
seu livro A moeda viva. Finalmente, compararemos esse último com algumas
outras utopias – ou, talvez fosse melhor dizer, atopias: a de Georges Bataille, em A parte maldita
e a de Giorgio Agamben, em O uso dos corpos. Em todos esses casos,
trata-se de buscar um sentido de “uso” para além tanto de sua concepção
naturalista (na qual ele é entendido como busca do prazer ou satisfação das
necessidades) quanto de uma espécie de “retorno romântico” a uma origem pura,
não contaminada pela “civilização”. Finalmente, voltaremos ao capítulo 4 de O
anti-Édipo, de modo a lê-lo à luz desses outros paradigmas do valor de uso.
- Não haverá aula no dia 11/06. A próxima aula acontecerá em 18/06, com a leitura dos seguintes textos:
- La part maudite, Introduction théorique, Georges Bataille.
- A parte maldita, Introdução teórica, Georges Bataille.
- "Traces of Georges Bataille in Gilles Deleuze: non-productive expenditure or production of consumption?", de Maximilian-Frederic Margreiter.
- textos lidos:
- "Première tâche positive de la schizo-analyse", Cap. 4 de L'anti-OEdipe, de Deleuze e Guattari.
- "Primeira tarefa positiva da esquizoanálise", Cap. 4 de O anti-Édipo, de Deleuze e Guattari.
- "La seconde tâche positive", Cap. 4 de L'anti-OEdipe, de Deleuze e Guattari.
- "Segunda tarefa positiva da esquizoanálise", Cap. 4 de O anti-Édipo, de Deleuze e Guattari.
- "O uso de si" e "O inapropriável" (In: O uso dos corpos. [Homo sacer, IV, 2], de Giorgio Agamben).
- "L'uso di sé" e "L'inappropriabile" (In: L'uso dei corpi. [Homo sacer, IV, 2], de Giorgio Agamben.
AGAMBEN,
Giorgio. L’uso dei corpi. Milão: Neri Pozza editore, 2014. [O uso dos
corpos. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2017].
BATAILLE, Georges. La part maudite. In: Georges
Bataille. Œuvres complètes, VII. Paris : Gallimard, 2019, p. 17-180. [A
parte maldita. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2013].
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. L’anti-Œdipe.
Capitalisme et schizophrénie I. Chapitre IV: “Introduction à la schizo-analyse”. Paris: Les
Éditions de Minuit, 1972. [O anti-Édipo. Capitalismo e esquizofrenia
1. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo:
Editora 34, 2010].
KLOSSOWSKI, Pierre. La monnaie vivante. Paris:
Éditions Terrain Vague, 1970. [A moeda viva. Tradução de Luís Lima. Lisboa:
Editora Antígona, 2008].
MARX, Karl. Kritik des Gothaer Programms. In:
Karl Marx/Friedrich Engels, Gesamtausgabe. MEGA, I/25. Berlin: Dietz, 1985, p. 3-25.
[Crítica do programa de Gotha. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo:
Boitempo, 2012].
Bibliografia secundária:
AYACHE,
Elie. The Medium of Contingency. An Inverse View of the
Market. New York: Palgrave MacMillan, 2015.
BARKAN, Joshua. “Use Beyond Value: Giorgio Agamben and
a Critique of Capitalism”. Rethinking Marxism: A Journal of Economics,
Culture & Society, 2009, 21:2, p. 243-259, DOI:
10.1080/08935690902743450
BAUDRILLARD, Jean. L’échange symbolique et la mort.
Paris: Éditions Gallimard, 1980.
BLANCHOT, Maurice. L’amitié. Paris: Gallimard,
1972.
______. La Communauté Inavouable. Paris: Les
Éditions de Minuit, 1983. [A comunidade inconfessável. Tradução de Éclair
A. Almeida Filho. Brasília/Bauru: Editora Universidade de Brasília/Editora
Lumme. 2013].
BRUM NETO,
Benjamim. “‘God Has Not Died, He Became Government’: Use-of-Oneself and
Immanence in Giorgio Agamben’s Work”. Philosophies, 2024, 9, 112.
https://doi.org/10.3390/philosophies9040112
CASTANET, Hervé. “L’échange du bien inéchangeable.
Variations sur une utopie de Pierre Klossowski”. À quoi sert un corps? La
Cause freudienne, 2008/2 N° 69, L'École de la Cause freudienne, p. 72-79.
CERQUEIRA,
Hugo E. A. DA Gama. “Breve história da edição crítica das obras de Karl Marx”. In: Revista de Economia Política 35 (4), 2015, p. 825-844.
CUILLERAI, Marie. “Simulacre et institution. Des Leçons
sur la Volonté de savoir de M. Foucault à La Monnaie vivante de P.
Klossowski”. 2011. halshs-00924845
DELEUZE, Gilles. Sur L'Anti-OEdipe I, 1971-1972.
Transcription: WebDeleuze; transcription modifiée, Charles J. Stivale.
DERRIDA, Jacques. Donner le temps 1. La fausse monnaie.
Paris: Galilée, 1991.
______. Spectres de Marx. L'État de la dette, le
travail du deuil et la nouvelle Internationale. Paris: Galilée, 1993.
GOUX, Jean-François. Frivolité de la valeur. Essai sur
l’imaginaire du capitalisme. Paris: Blusson,
2000.
GOUX. Jean-Joseph, ASCHEIM, Kathryn, GARELICK Rhonda.
“General Economics and Postmodern Capitalism”. Yale French Studies, No. 78, On Bataille
(1990), p. 206-224.
FOUCAULT, Michel. “Leçon du 24 février 1971”. In: Leçons
sur la volonté de savoir. Cours au Collège de France, 1970-1971. Paris:
Gallimard/Seuil, 2011, p. 128-141.
GANTI, Tejaswini. “Neoliberalism”. In: Annu. Rev. Anthropol. 2014.43, p. 89-104.
GRAEBER, David. Toward an Anthropological Theory of
Value. The False Coin of Our Own Dreams. New York: Palgrave, 2001.
HARVEY, David. A Brief History of Neoliberalism.
Oxford: Oxford University Press, 2005.
______. The Limits to Capital. London/New York:
Verso, 2006.
______. Seventeen Contradictions and the End of
Capitalism. Oxford: Oxford University Press, 2014.
______. Crônicas anticapitalistas. Um guia para a
luta de classes no século XXI. Tradução de Artur Renzo. São Paulo:
Boitempo, 2024.
KAUFMAN,
Eleanor. The Delirium of Praise. Bataille, Blanchot, Deleuze, Foucault, Klossowski. Johns Hopkins University Press, 2001.
MANN, Michael. “The end of capitalism?”. In: Análise
Social, 209, xlviii (4.º), 2013.
MARGREITER, Maximilian-Frederic. “Traces of Georges
Bataille in Gilles Deleuze: non-productive expenditure or production of
consumption?”, Journal for Cultural Research, 2024, DOI:
10.1080/14797585.2024.2406396
MASSUMI, Brian. 99 Theses on the Revaluation of
Value - A Postcapitalist Manifesto. University of Minnesota Press, 2018. [99
teses para uma revaloração do valor. Um manifesto pós-capitalista. Tradução
de Pablo A. B. Costa. São Paulo: GLAC
Edições, 2020].
McLOUGHLIN, Daniel. Agamben and Radical Politics.
Edinburgh:
Edinburgh University Press, 2016.
MELLO,
Gustavo M. de C. (Editor), SABADINI, Mauricio de S. (Editor). Financial Speculation and Fictitious Profits: A
Marxist Analysis. New York: Palgrave
MacMillan, 2019.
RODRIGUES,
Arthur Bastos. “Crítica da ideia de justiça em Marx a partir das Glosas
marginais ao Programa de Gotha”. In: Verinotio.
v. 29 n. 1 – jan.-jun., 2024, p. 367-387, DOI 10.36638/1981-061X.2024.29.1.713
ROFFE, Jon. Abstract Market Theory. New York:
Palgrave MacMillan, 2015.
SABADINI,
Mauricio de Souza. “A teoria do valor-trabalho em Marx: a mercadoria e a
crítica da crítica à centralidade do trabalho”. In: Caderno CRH,
Salvador, v. 36, p. 1-13, e023006, 2023.
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.35798
SERRANO,
Franklin. “Do ouro imóvel ao dólar flexível”. In: Economia e Sociedade,
Campinas, v. 11, n. 2 (19), p. 237-253, jul./dez. 2002.
STREEK, Wolfgang. “How Will Capitalism End?”. In: New
Left Review 87, may-june 2014, p. 35-64.
VAROUFAKIS, Yanis. Technofeudalism: What Killed
Capitalism. New York/London: Melville House, 2023.
WALLERSTEIN, Immanuel. “Structural Crisis, or Why
Capitalists May No Longer Find Capitalism Rewarding”. In: Does capitalism
have a future? Oxford: Oxford University Press 2013, p. 9-36.
WALRAS, Léon. Éléments d’économie politique pure ou
théorie de la richesse sociale. Paris: Librairie Générale de Droit et de
Jurisprudence, 1952 (1a edição 1900).
WARK, McKenzie. Capital is Dead. London: Verso
Books, 2019. [O capital está morto. Tradução de Dafne Melo. São Paulo:
Editora Funilaria e sobinfluencia edições, 2022].