quinta-feira, 20 de março de 2025

Filosofia Política I (PPGFil/UERJ) - Seminário de Ontologia III (PPGLM/UFRJ)

PROFESSOR: Ulysses Pinheiro                       

HORÁRIO: quartas-feiras, das 16:00h às 19:00h

LOCAL: IFCS - Largo de São Francisco de Paula, 1 - sala 307-A (subir escada ao lado do banheiro feminino do terceiro andar)

Exame do conceito de valor de uso na crítica anticapitalista de O anti-Édipo: entre Marx, Bataille, Klossowski, Agamben.

PROGRAMA:

Uma das principais tarefas de uma teoria crítica do capitalismo é formular um conceito de valor que a torne capaz de chegar a um ponto de vista externo às categorias da economia política burguesa. O objetivo deste curso é examinar uma dessas teorias, a saber, a que foi elaborada por Gilles Deleuze e Félix Guattari em O anti-Édipo (1972). Trata-se de determinar o significado que os conceitos de “uso” e de “valor de uso” adquirem ao longo do livro, concentrando-nos especialmente em seu capítulo 4 (“Introdução à esquizo-análise”). É nesse capítulo que se expõe, senão um programa, ao menos as diretrizes gerais ou as tarefas preliminares de uma práxis revolucionária. Encontramos aí, portanto, as bases para a formulação de um pensamento utópico, ligado à destruição do capitalismo.

A famosa frase retirada de Frederic Jameson, “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”, será contraposta a algumas formulações que se dedicaram a articular uma tal imaginação, algumas das quais prepararam a versão encontrada em O anti-Édipo, enquanto outras foram por ela influenciadas. Começaremos essa série com a leitura da Crítica ao programa de Gotha, de Karl Marx, um dos únicos lugares de sua obra em que ele tratou de detalhar como seria o funcionamento de uma sociedade comunista. Em seguida, examinaremos a dimensão utópica – e contra-utópica – do pensamento de Pierre Klossowski, em seu livro A moeda viva. Finalmente, compararemos esse último com algumas outras utopias – ou, talvez fosse melhor dizer, atopias:  a de Georges Bataille, em A parte maldita e a de Giorgio Agamben, em O uso dos corpos. Em todos esses casos, trata-se de buscar um sentido de “uso” para além tanto de sua concepção naturalista (na qual ele é entendido como busca do prazer ou satisfação das necessidades) quanto de uma espécie de “retorno romântico” a uma origem pura, não contaminada pela “civilização”. Finalmente, voltaremos ao capítulo 4 de O anti-Édipo, de modo a lê-lo à luz desses outros paradigmas do valor de uso.

 e-mail: filosofiaifcs@gmail.com


- Não haverá aula no dia 11/06. A próxima aula acontecerá em 18/06, com a leitura dos seguintes textos:

- La part maudite, Introduction théorique, Georges Bataille.

- A parte maldita, Introdução teórica, Georges Bataille.

- "Traces of Georges Bataille in Gilles Deleuze: non-productive expenditure or production                           of consumption?", de Maximilian-Frederic Margreiter.

 

- textos lidos:

"Première tâche positive de la schizo-analyse", Cap. 4 de L'anti-OEdipe, de Deleuze e Guattari.

"Primeira tarefa positiva da esquizoanálise", Cap. 4 de O anti-Édipo, de Deleuze e Guattari.

"La seconde tâche positive", Cap. 4 de L'anti-OEdipe, de Deleuze e Guattari.

"Segunda tarefa positiva da esquizoanálise", Cap. 4 de O anti-Édipo, de Deleuze e Guattari.



Bibliografia primária:

AGAMBEN, Giorgio. L’uso dei corpi. Milão: Neri Pozza editore, 2014. [O uso dos corpos. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2017].

BATAILLE, Georges. La part maudite. In: Georges Bataille. Œuvres complètes, VII. Paris : Gallimard, 2019, p. 17-180. [A parte maldita. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013].

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. L’anti-Œdipe. Capitalisme et schizophrénie I. Chapitre IV:  “Introduction à la schizo-analyse”. Paris: Les Éditions de Minuit, 1972. [O anti-Édipo. Capitalismo e esquizofrenia 1. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010].

KLOSSOWSKI, Pierre. La monnaie vivante. Paris: Éditions Terrain Vague, 1970. [A moeda viva. Tradução de Luís Lima. Lisboa: Editora Antígona, 2008].

MARX, Karl. Kritik des Gothaer Programms. In: Karl Marx/Friedrich Engels, Gesamtausgabe. MEGA, I/25. Berlin: Dietz, 1985, p. 3-25. [Crítica do programa de Gotha. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2012].

 

Bibliografia secundária:

AYACHE, Elie. The Medium of Contingency. An Inverse View of the Market. New York: Palgrave MacMillan, 2015.

BARKAN, Joshua. “Use Beyond Value: Giorgio Agamben and a Critique of Capitalism”. Rethinking Marxism: A Journal of Economics, Culture & Society, 2009, 21:2, p. 243-259, DOI: 10.1080/08935690902743450

BAUDRILLARD, Jean. L’échange symbolique et la mort. Paris: Éditions Gallimard, 1980.

BLANCHOT, Maurice. L’amitié. Paris: Gallimard, 1972.

______. La Communauté Inavouable. Paris: Les Éditions de Minuit, 1983. [A comunidade inconfessável. Tradução de Éclair A. Almeida Filho. Brasília/Bauru: Editora Universidade de Brasília/Editora Lumme. 2013].

BRUM NETO, Benjamim. “‘God Has Not Died, He Became Government’: Use-of-Oneself and Immanence in Giorgio Agamben’s Work”. Philosophies, 2024, 9, 112.

https://doi.org/10.3390/philosophies9040112

CASTANET, Hervé. “L’échange du bien inéchangeable. Variations sur une utopie de Pierre Klossowski”. À quoi sert un corps? La Cause freudienne, 2008/2 N° 69, L'École de la Cause freudienne, p. 72-79.

CERQUEIRA, Hugo E. A. DA Gama. “Breve história da edição crítica das obras de Karl Marx”. In: Revista de Economia Política 35 (4), 2015, p. 825-844.

CUILLERAI, Marie. “Simulacre et institution. Des Leçons sur la Volonté de savoir de M. Foucault à La Monnaie vivante de P. Klossowski”. 2011. halshs-00924845

DELEUZE, Gilles. Sur L'Anti-OEdipe I, 1971-1972. Transcription: WebDeleuze; transcription modifiée, Charles J. Stivale.

DERRIDA, Jacques. Donner le temps 1. La fausse monnaie. Paris: Galilée, 1991.

______. Spectres de Marx. L'État de la dette, le travail du deuil et la nouvelle Internationale. Paris: Galilée, 1993.

GOUX, Jean-François. Frivolité de la valeur. Essai sur l’imaginaire du capitalisme. Paris: Blusson, 2000.

GOUX. Jean-Joseph, ASCHEIM, Kathryn, GARELICK Rhonda. “General Economics and Postmodern Capitalism”. Yale French Studies, No. 78, On Bataille (1990), p. 206-224.

FOUCAULT, Michel. “Leçon du 24 février 1971”. In: Leçons sur la volonté de savoir. Cours au Collège de France, 1970-1971. Paris: Gallimard/Seuil, 2011, p. 128-141.

GANTI, Tejaswini. “Neoliberalism”. In: Annu. Rev. Anthropol. 2014.43, p. 89-104.

GRAEBER, David. Toward an Anthropological Theory of Value. The False Coin of Our Own Dreams. New York: Palgrave, 2001.

HARVEY, David. A Brief History of Neoliberalism. Oxford: Oxford University Press, 2005.

______. The Limits to Capital. London/New York: Verso, 2006.

______. Seventeen Contradictions and the End of Capitalism. Oxford: Oxford University Press, 2014.

______. Crônicas anticapitalistas. Um guia para a luta de classes no século XXI. Tradução de Artur Renzo. São Paulo: Boitempo, 2024.

KAUFMAN, Eleanor. The Delirium of Praise. Bataille, Blanchot, Deleuze, Foucault, Klossowski. Johns Hopkins University Press, 2001.

MANN, Michael. “The end of capitalism?”. In: Análise Social, 209, xlviii (4.º), 2013.

MARGREITER, Maximilian-Frederic. “Traces of Georges Bataille in Gilles Deleuze: non-productive expenditure or production of consumption?”, Journal for Cultural Research, 2024, DOI: 10.1080/14797585.2024.2406396

MASSUMI, Brian. 99 Theses on the Revaluation of Value - A Postcapitalist Manifesto. University of Minnesota Press, 2018. [99 teses para uma revaloração do valor. Um manifesto pós-capitalista. Tradução de Pablo A. B. Costa. São Paulo: GLAC Edições, 2020].

McLOUGHLIN, Daniel. Agamben and Radical Politics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2016.

MELLO, Gustavo M. de C. (Editor), SABADINI, Mauricio de S. (Editor). Financial Speculation and Fictitious Profits: A Marxist Analysis. New York: Palgrave MacMillan, 2019.

RODRIGUES, Arthur Bastos. “Crítica da ideia de justiça em Marx a partir das Glosas marginais ao Programa de Gotha”. In: Verinotio. v. 29 n. 1 – jan.-jun., 2024, p. 367-387, DOI 10.36638/1981-061X.2024.29.1.713

ROFFE, Jon. Abstract Market Theory. New York: Palgrave MacMillan, 2015.

SABADINI, Mauricio de Souza. “A teoria do valor-trabalho em Marx: a mercadoria e a crítica da crítica à centralidade do trabalho”. In: Caderno CRH, Salvador, v. 36, p. 1-13, e023006, 2023. http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v36i0.35798

SERRANO, Franklin. “Do ouro imóvel ao dólar flexível”. In: Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, n. 2 (19), p. 237-253, jul./dez. 2002.

STREEK, Wolfgang. “How Will Capitalism End?”. In: New Left Review 87, may-june 2014, p. 35-64.

VAROUFAKIS, Yanis. Technofeudalism: What Killed Capitalism. New York/London: Melville House, 2023.

WALLERSTEIN, Immanuel. “Structural Crisis, or Why Capitalists May No Longer Find Capitalism Rewarding”. In: Does capitalism have a future? Oxford: Oxford University Press 2013, p. 9-36.

WALRAS, Léon. Éléments d’économie politique pure ou théorie de la richesse sociale. Paris: Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 1952 (1a edição 1900).

WARK, McKenzie. Capital is Dead. London: Verso Books, 2019. [O capital está morto. Tradução de Dafne Melo. São Paulo: Editora Funilaria e sobinfluencia edições, 2022].